Certamente o
economista Samy Dana é um dos profissionais mais prestigiados da televisão
brasileira.
Professor da
conceituada Fundação Getulio Vargas (São Paulo, capital), Samy reúne à esta
atuação a de ser comentarista do programa “Conta Corrente" (Globo News),
disponibiliza diariamente seus pareceres na Coluna Online “Caro Dinheiro” (UOL),
e também se distingue como colunista do Caderno “Mercado”, publicado pela Folha
de São Paulo.
O economista é também
conhecido pela fala mansa, pausada e direta, pelo semblante sereno, e como não recordar,
pelas atitudes pouco ou nada convencionais que contrastam com a severidade habitual
dos economistas.
Por exemplo, em Março
de 2013, o despachado Samy Dana, vestindo camiseta preta e usando sandálias crocs
simpaticamente verdes, apresentou-se no complexo da Fundação Getulio Vargas
para ministrar uma aula especial: de música.
Pois é, Doutor em
economia e especialista em finanças, Samy Dana naquela manhã de Março dissertou
sobre criatividade para futuros administradores e economistas. Tudo no embalo
da boa música executada com a colaboração da pianista Silvia Goes.
Sem dúvida alguma o
cara é uma figura.
Samy é um dos raros
professores de que se tem notícia num país que não consegue ganhar sequer um
Prêmio Nobel (em qualquer área que seja), que rompe com o formalismo estéril de
uma academia que não sabe a que veio, pouco produz e que ainda por cima se
coloca numa torre de marfim.
Diferentemente, Samy Dana
é um professor que interage com platéias e audiências, é brincalhão e se
destaca em traduzir com singeleza conceitos complexos, que no caso das ciências
econômicas, se transformaram em formulações áridas, antipáticas e herméticas, uma
narrativa que o público leigo sequer consegue acompanhar.
Esta muralha de incompreensões
erguida ao longo das últimas décadas é por sinal, uma das estacas que pavimentaram
o ruinoso caminho pelo qual o país chegou ao fundo do poço neste ano de 2016.
Afinal, se ninguém
consegue nem ao menos entender o que falam os economistas, como esperar
participação para solucionar os problemas complexos da economia brasileira,
que, aliás, atingem justamente os bolsos daqueles que não sabem o que está
acontecendo e ademais, são obrigados a pagar a dura conta de erros que não
cometeram?
Certo é que nada do
que foi colocado admite qualquer dissociação com o sagrado rigor conceitual. Já
disse alguém, seriedade não é sinônimo de sisudez, assim como alegria não é um
atalho para a falta de bom senso.
Neste sentido, o esmero
conceitual é a motivação básica do saber sistematizado, o combustível das
mudanças essenciais para que as sociedades gratifiquem seus membros com paz,
prosperidade e uma vida plena e feliz.
Pois então, como
nenhum homem ou mulher deste mundo é onisciente - atributo que a tradição judaico-cristã
reserva exclusivamente ao Altíssimo - Samy comete, tal como qualquer outro mortal,
erros, deslizes e incorreções.
O que tenho a comentar
aconteceu no segundo semestre do ano passado. Numa pausa em que decidi
descansar um pouco da elaboração do relatório do meu terceiro Pós Doutorado
(PNPD-CAPES, 2014-2015), liguei a televisão.
De pronto, lá estava o
afável Samy Dana comentando sobre a gestão econômica da ex-presidente Dilma
Rousseff.
Com muita leveza
analisava a absurda dependência brasileira das commodities, fruto de uma
política econômica que vitaminou a temerária gestão econômica da Era Lula &
Dilma Rousseff, que terminou indo pelos ares no mandato da preposta de Lula, a
Senhora Rousseff.
Utilizando sentenças
simples, de repente, porém, Samy derrapou numa explicação etimológica. Comentando
sobre as commodities, retoricamente expôs o raciocínio que segue:
“E o que são as
commodities? São os bens básicos do comércio exterior. Commodity vem do inglês
common. Isto é: comum”.
Acontece que o que foi
dito por Samy é uma bobagem. Pelo jeito, o comentarista recorreu a uma analogia
apressada de common, relacionando mecanicamente esta expressão à commodity.
Foi uma bobagem porque
commodity simplesmente não provém de common.
Daí que vale a pena tecer
um comentário sobre a origem da terminologia, de largo trânsito no jargão dos
especialistas em economia.
Note-se que a economia
reconhece como commodities todos os produtos in natura - ou seja,
pouco ou nada processados industrialmente - obtidos pela agro-pecuária e
extração mineral, que podem ser estocados por certo tempo sem perda sensível de
qualidade.
Confira-se: esta
definição também pode incluir insumos como a água doce em seu sentido amplo, que
apenas ocasionalmente são indexados ao conceito. Mas recursos como as águas
também constituem commodity, e, diga-se de passagem, das mais cobiçadas
neste mundo crescentemente sedento.
Advirta-se que a
palavra inglesa commodity - em contestação ao que é dito não só por Samy
Dana, mas inclusive pelo público leigo - não procede de common, que neste
idioma significa comum, vulgar, habitual ou banal.
Note-se que a palavra commodity
entrou em uso coloquial na Grã-Bretanha ao longo do século XV, corruptela do
francês commodité, cuja tradução usual é comodidade, facilidade ou conveniência.
Por sua vez, o termo
francês tem origem no vernáculo latino commoditas, que significa
adequação, conveniência ou vantagem.
Fato óbvio, com
certeza a palavra commoditas induziu desdobramentos em termos de
significados econômicos: oferecer algo adequado ao cliente, estar de prontidão
na hora de oferecer um produto, vender o que oferece facilidade para obter
lucro, etc.
Aproveitando a deixa,
cabe lembrar que estes significados são uma possível origem das chamadas “lojas
de conveniência”, encontradas em postos de gasolina ou outros pontos das
cidades, uma espécie de pronto socorro de bens e produtos que nas altas horas
da noite, não encontramos em lugar algum.
Seja como for e indo
direto ao ponto, Samy fez uma explicação incorreta de um termo que deveria ser
apreciado com um apuro muito maior.
A questão das commodities
não é brincadeira. O caos econômico hoje existente no país teve por epicentro
as ditas commodities. Portanto, o conceito seria merecedor de ponderação
mais consistente.
Por definição, Samy Dana poderia ressalvar que uma política econômica baseada em commodities deveria primar pela adequação, conveniência ou vantagem.
Tal como o bom e velho latim nos ensina.
O desafio de ser
alegre e lúcido em esclarecer sobre o universo fechado dos conceitos econômicos
tem sido enfrentado com muito sucesso por Samy Dana.
Como foi rubricado, o
país precisa de mais e não menos professores que satisfaçam o duplo protagonismo
em transformar o que é conceito abstrato em significado palpável para a maioria
dos cidadãos.
Isto em todas as
áreas, disciplinas e campos do conhecimento.
Contudo, neste caso
Samy Dana errou: commodity não tem origem em common. Este foi um tropeço
banal, inadequado e inconveniente.
Algo que deve ser
evitado. Principalmente porque assim se abre caminho para a irresponsabilidade
da sisudez.
E de quebra, a
desqualificação da seriedade da alegria.
PARA SABER MAIS SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA
THE COLLAPSE OF THE HIGH TECH SLUMS: ILLUSIONS OF THE PRESIDENTIAL ERA LULA & DILMA ROUSSEFF (O COLAPSO DAS FAVELAS HIGH TECH: ILUSÕES DA ERA PRESIDENCIAL LULA & DILMA ROUSSEFF). TEXTO DE LIVRE ACESSO (Free e-book).
THE COLLAPSE OF THE HIGH TECH SLUMS: ILLUSIONS OF THE PRESIDENTIAL ERA LULA & DILMA ROUSSEFF está disponível para leitura gratuita. Para acessar e ler, basta instalar o aplicativo KOBO. Qualquer dúvida ou dificuldade, a EDITORA KOTEV está permanentemente disponível para auxiliar: atendimento@kotev.com.
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MAURÍCIO WALDMAN é jornalista, antropólogo, pesquisador, editor, consultor ambiental e professor universitário. Autor de 16 livros e de mais de 600 artigos, textos acadêmicos e pareceres de consultoria, Waldman fez três traduções matriciais: Manifesto Eco Modernista (An Eco Modernist Manifesto, Breakthrough Institute), inglês-português (2015), O Ecologismo dos Pobres, de Joan Martínez Alier (2007), do espanhol para o português e Cinquenta Grandes Filósofos, de Diané Collinson (2004), do inglês para o português. Maurício Waldman é graduado em Sociologia (USP (1982), Mestre em Antropologia (USP, 1997), Doutor em Geografia (USP, 2006), Pós Doutor em Geociências (UNICAMP, 2011), Pós Doutor em Relações Internacionais (USP, 2013) e Pós Doutor em Meio Ambiente (PNPD-CAPES, 2015).
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